quarta-feira, 23 de abril de 2014

23 de Abril: Um Salve a todos os Guerreiros e Guerreiras!

23 de Abril no Brasil também saúdam um guerreiro.Podia escrever aqui incontáveis linhas sobre mitologia comparativa e argumentar extensamente sobre cada um deles - e até mesmo sobre o sincretismo de suas imagens.Mas para que?Eu vejo um guerreiro alí - e sei na minha vida quando preciso da proteção ou da atitude de um guerreiro.E tenho certeza que aqueles que rezam para um guerreiro também sabem.Mas há um dragão na história, o que pelo menos instiga escrever ao menos algumas linhas sobre tudo isto.Dispenso explicar o que seja um dragão e vou pular o estágio de escrever do meu jeito neste artigo, tudo aquilo que vocês poderão encontrar mais bem explicado no meu livro.Então vou me ater ao simples.

O Dragão está onde você escolher - para os orientais era uma pessoa de renome e de capacidade; para os ocidentais desde um flagelo a um herói (depende do lado da contenda que estiver) - o cerne e o guardião do tesouro que é viver além de todos condicionamentos morais e sociais possíveis.Entre os povos eslavos, herdeiros do oriente tudo isso se encontrava na poeira da encruzilhada das estradas.E o que chamamos de justa-medida e habilidade eram simbolizadas tanto no dragão quanto no guerreiro que o confrontava.Eram o mesmo, ou ainda pequenas metamorfoses ou estados de uma mesma força.Na arena da vida interior não há lados ou burocratas - só guerreiros, outros nobres e o bom combate - e claro, incontáveis reinos.

O Sagrado e o Não-Ordinário jazem no olhar e no valor interior de cada um - e encontram seu reflexo naquilo que está ao redor. Enquanto sou um "Pagão" me disseram que "pega mal" eu saudar um cavaleiro ou um guerreiro nesta data.Mas como vivo mais preocupado com o "mistério" implícito nesta cosmovisão  do que com a vida social - saúdo do mesmo jeito e do meu jeito tais guerreiros.Se há muito confronto na vida peço para que intervenham em paragens mais distantes ou em caminhos que ainda sequer espreitei.É preciso ímpeto para sementes destruirem as cascas que as aprisionam, antes de germinarem na terra.Cada um vê o seu Deus ou Dragão onde sente que ele está - já os demônios e os Dragões são os Deuses quando não compreendidos ou não pertinentes ao individuo ou o coletivo que vier a integrar.Os golpes contam e o direcionamento bem como o objetivo a que serão dirigidos também.A disciplina, a marcialidade e a severidade importam, assim como o tom bonachão do legionário na taverna a jogar dados e rir com os amigos.Aquiles, Heitor, Pentesiléia e tantos mais sempre são lembrados.

Como ando a cavalo, luto com espadas e as vezes até atiro com arco e flecha - não tenho problema em reconhecer o não-ordinário em suas diversas formas pelas encruzilhadas da vida - já bebi com coronéis, capitães e outros que são os matadores do estado para alguns; também já bebí com aqueles do povo que são os vilões para outros tantos.Nenhum dos casos foram planejados de nenhuma forma, não passando de bom papo de taverna e dos quais colecionei boas histórias e lições de vida.Sou o tipo de Vamp que olha nos olho do desconhecido como promessa - e que encontra no reflexo do espelho do mundo a sí e aquilo que carrega no próprio destino.E este demanda pudor, justeza e nobreza nos atos - como todo habilidoso guerreiro e guerreira sabem.E aqueles que são lembrados sabem disso mais do que todos os outros.

Claro que há pessoas que olham para o sagrado ou ainda o "não-ordinário" e o desconhecido da perspectiva do "social", do "politicamente correto" e outras tantas como se ao mesmo pudesse ser aplicada uma perspectiva "estatal" e burocrática bem terráquea a tudo isso. De alguma forma tantas regras, tantas especificidades e preceitos lhes importem e isto merece um respeito especial. Mas ao longo dos anos meus leitores e leitoras já foram bastante expostos a noção de um olhar transparente e adamantino, cujo a vivência transforma imediatamente a compreensão do presente e do futuro - além de qualquer aspiração egóica ou satisfação daquilo que esperava que fosse de um certo jeito.E neste momento espero que eles e elas já tenham abdicado de promissórias e zonas de conforto.

Enquanto um "Vamp"sempre busquei pela vivência, pela funcionalidade, engenhosidade e o gosto do "Sangue" - ou seja, provar da fisicalidade e consequências dos meus atos - eis aí o que chamamos de "Sangue". Isto me ensinou muito sobre a importância da justeza, nobreza e da habilidade - ideais para quem já viu o inferno e é capaz de abarcar no abraço as chamas de lá e das estrelas do próprio céu.

Meus ancestrais foram um povo do mar.Ao seu próprio modo conquistadores capazes de deixarem tudo que sabiam ou faziam para se lançarem ao mar rumo a uma vida melhor para o seus - dando conta do recado até o fim. Coisa que a geração em que eu vivo ainda é carente de aprendizado.Os "caras" do passado eram mestes dos mares e da pesca, vieram para o Brasil largaram tudo e viraram bons agricultores, depois comerciantes e seguraram a barra legal. É Marte quem nos protege?É, que bom, Salve o Bom General!É São Jorge? então salve Jorge!É Miguel Arcanjo?Que Bom!São incontáveis outros guerreiros e guerreiras de outras eras?Que bom que estes ainda vêm para os seus!O que importa é o cavaleiro, a amazona, o guerreiro e a guerreira vírem - e aí está a beleza e o esplendor nas trocas entre aqueles que respiram e os que não respiram e vivem como nossa inspiração. Não dá para transformar isso em algo burocrático, estatal ou dogmatizado de nenhum tipo.Mas isso incomoda os mais fracos e os mais mansos, que precisam de alguma cláusula contratual para se imaginarem seguros... bem dizer para um tigre faminto que é vegetariano ou um bom religioso não irá ajudar em nada, talvez o mesmo felino ore ao jeito dele para você antes de abatê-lo rapidamente.Uma porrada bem dada ou uma fuga engenhosa são escolhas mais sensatas nestes casos - e pertencem as artes da guerra.

Quando deixamos de reconhecer um bom cavaleiro ou uma amazona que vem por nós na hora do problema, capazes de prover aquele inegável "vou ficar contigo até sairmos dessa!E vamos sair!" ou ainda de desferir aquele murro bem dado em nossas lindas carinhas para sairmos do pânico ou da presunção de nos pensarmos mais e melhores do que aquilo que realmente somos.Se perdemos esta objetividade temos um problema bem grave. Quando ao invés de encararmos a ajuda que vem e nos travarmos para discutirmos "corretismos políticos" ou se a papelada burocrática de quem veio é de onde veio mesmo naquele continente e país geográfico... penso que se por ventura chegarmos neste grau não seremos mais vamps, bruxos, xamãs, magos, druídas e etcs... e menos ainda pagãos de qualquer  tipo que seja. Então, prefiro reconhecer, saudar quem me guarda e passar tal inspiração para quem caminha comigo.E ainda expressar minha gratidão por um escudo forte - ou casco ou ainda escama grossa...lanças relampejantes e asas vigorosas não só nesta data de hoje mas sempre que for o momento - e celebrar aquilo que foi co-criado nestes momentos.

Moral da história: Meu "Paganismo" e mesmo a Cosmovisão Vampyrica se preocupam com que o Sagrado venha ou esteja presente - na alegria e na tristeza - co-criando um mundo melhor para os nossos. Se o teu se preocupa que os animais de poder, deídades e afins venham através do bureau alfandegário ou de algum órgão estátal tipo o IBAMA mas com nuances européia... a escolha é sua.Mas para todos efeitos salve todos os guerreiros e guerreiras de todos os reinos, de todas as eras e que sem eles jamais poderíamos celebrar a liberdade enquanto delicada conquista pessoal e coletiva de nossas vidas neste momento.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Um Vampyro olhando a Bruxaria...

Um dia desses, durante uma das incontáveis viagens pelo interior de SP - passei numa cidadezinha onde tinha uma velhinha que mexia com ervas, rezava e benzia quem a procurava com problemas. Todo mundo a chamava de Bruxa. Não me lembro de ter perguntado se ela também amaldiçoava quem importunava aqueles que a procuravam, mas enfim... Na mesma época também palestrei em diversos eventos de bruxas, terapeutas, pesquisadores e etcs - também cheio de bruxos ou pessoas que se afirmavam como tal. Também encontrei por aí nas trilhas da vida pessoas de cultos Afrodescendentes que também eram nomeados como Bruxos e Bruxas entre seus pares - bem como amigos e amigas norte-americanos e europeus que se nomeavam ou eram nomeados como Bruxos e Bruxas - fossem de agrupamentos familiares ou daqueles que nascem por vínculos sociais e afetivos com outros grupos. Notei que em todos os pontos desta curiosa teia sempre rolava um estranhamento "social" - entre muitos deles. 

Quando os tais amigos e amigas deixavam de lado os jargões, as "consciências sociais" e afins - todos compartilhavam de idéias, vivências e perspectivas com bastante convergência. Provavelmente eu observo tal coisa por ter um olhar nômade e um coração feral - e algumas idéias bastante anarco-ontológicas quem sabe. Percebo uma evidente beleza e arrebatamento nos papos e nas idéias que tenho o privilégio de poder trocar e compartilhar com tais pessoas. E isso é muito legal. É bacana deixar de lado o "jargonês" e o "léxico" - parar de discutir o que é e o que faz tal coisa a tal coisa e partir para o "nossa, que legal eu também curto isso" ou ainda "poxa, já víví algo muito parecido" - e a beleza dos enlaces afetivos e de irmandade que brotam entre pessoas afins. O que importa se crê em uma lei triplíce ou na colheita das consequências daquilo que semeia? Penso que vivência, como se faz para se resolver tais coisas e amor naquilo que se escolhe caminhar sejam mais temas mais interessantes e atraentes para se conversar entre afins - do que debater quem é e quem não é.Uma conversa expontânea e não dogmática é muito mais atraente do que se repetir fervorosamente o que alguma "cartilha" ou "cantilena" do que pode e do que não pode...

Claro que eu sei que em termos de história, antropologia, psicologia, sociologia há muita coisa escrita e padrões de identidade que delineiam o que é e o que não é Bruxaria - bem como um amplo mercado literário e comercial sobre o tema com bastante material publicado e perspectivas diversas - e que tudo isso é muito importante para muita gente.Mas noto que tudo este conteúdo aí vem a despencar em visões modernas ou pós-modernas - que são um pouco "alienígenas" para estudarem algo definitivamente pré-moderno.Como poderíamos esperar que as chamadas ciências sociais que por exemplo tem sua base no Materialismo Histórico Dialético Marxista poderia se dirigir com alguma isenção e pontualidade a algo que sua ideologia já postula como ópio do povo, alienação e digno de pena por sua pobreza cultural e inutilidade para o todo (ou estado).Vou deixar de lado outras ainda que abordam estes temas como se tudo fosse algo inacessível, inalcançável e inequvocadamente estranho demais para o "civilizado" - ou sujeito a jogos de palavras risíveis que apenas acrescentam vácuo ao vazio incessante acadêmico de repetir citações e não produzir novo conteúdo sobre o tema estudado - e facilmente desmantelados por um olhar mais atento e alguma espirituosídade mais ígnea.

Com tudo isso que descreví no parágrafo anterior - apenas posso concluir que a resposta a minha pergunta é simples, não é possível esperar algo que sacie a sede de conhecimento que nos guia - apenas lendo ou ouvindo de orelhada o que dizem aqueles que não vivenciam ou integram um contexto que se propõem a compreenderem. Como vamos esperar que um pastor evangélico de alguma denominação ultra-radical possa falar bem de algo que sua base teórica e credo postulam como algo inferior a ser dizímado. E o pior de tudo, como podemos esperar viver bem entre afins, se dentre um milhão de possibilidades de escolhas do que podemos fazer, pensar, escrever, dialogar, compartilhar - preferimos debater sobre o que é e o que não é - sobre fragmentos e perspectivas observadas externamente ao que integramos e vivemos - ao invés de falarmos daquilo que vivemos naquele contexto? Se alguém inclusive quiser responder tal pergunta para mim use os comments abaixo desta postagem.

Cansado de tantos dilemas, um dia perguntei para um amigo índio, sobre tudo isso, afinal quem era o que ou o que valia mais nestas questões de bruxaria e afins - e de forma expontânea e ligeira ele respondeu: 
Na minha tribo só é pajé quem você procura pra essas coisas espirituais e o tal resolve o problema de uma vez por todas com fundamento, sabedoria e prática. Achei uma resposta sensata e passei a caminhar com esta idéia - colocando uma "estaca" nestas questões que consumiram muito tempo da minha presença e imortalidade! Vv--vV
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* Futuramente escrevo algo sobre as velhinhas do bairro do Cambucy do começo do século XX e suas bruxarias, bençãos e a fusão de um cristianismo místico, com elementos bruxos italianos e portugueses - e posteriormente com atributos afros.
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