O confronto é um atributo inegável do ecossistema e uma face
do sagrado que integra o todo. As feras que admiramos no Jardim Selvagem encaram
a todos os seus confrontos como um jogo lúdico de sobrevivência quase como uma
dança – víde os belos beija-flores disputando a posse do bebedouro no jardim.
Humanos (também feras em outro degrau de desenvolvimento) confrontam a sí e a
terceiros, diferentemente das outras feras deste jardim e suas disputas são
mais elaboradas – mas os atributos formativos de cada disputa ainda residem em
sistemas e circuitos compatíveis de biosobrevivência, territorialidade, cultura
e semântica – e principalmente o desejo de dar ordens e dirigir como algo deve
se desenvolver e se propagar (alguns se importam com o todo e outros não).Tenho
certeza que apreciadores do Tarô, frequentadores dos Encontros do Tarô dos
Vampiros e simpatizantes da Cosmovisão Vampyrica encontrarão interessantes
analogias e significados nos parágrafos a seguir.
Na
mitologia mediterrânea as principais deidades e daemons ligados ao confronto
integravam ou andavam próximas do cortejo de “Ares” e vinham impetuosamente ao
encontro tanto do indivíduo quanto do coletivo. Os antigos diziam que alí certamente encontrávamos a titânida filha de Gaia
“Fama”(Pheme) logo a frente do cortejo, ela era recoberta de plumas e de olhos, milhares
de línguas e bocas uma persistente mensageira da calúnia e da mentira. Seu
palácio era de bronze com milhares de orifícios que captavam até as coisas mais
inauditas e as ampliavam por todo o mundo não importando se fosse calúnia ou
verdade, conforme a descreveram na Eneida. Pensa no compartilhamento
indiscriminado de informações em uma Rede Social... Junto de Fama (Pheme)
andavam outras deídades (ou Valores ou quem sabe ainda Espíritos) chamados de “Engano”,
“Credulidade”,”Temor” e “Boatos” que lhe auxiliavam com seus ouvidos e bocas a
divulgarem indiscriminadamente tudo que víam e ouviam. Então na antiguidade ser
“famoso” não era boa coisa, significando “aquele que rende o que falar”,
“difamado” e “desacreditado” bastante diferente da noção de Brilho e Glória dos
tempos contemporâneos.
O cortejo de Ares
também era integrado por seus filhos Phobos (Medo), Demos(Pânico) e Enzo (Furor
da Batalha) – assim leitoras e leitores contemporâneos podem tirar uma idéia
inicial dos valores e espíritos que vinham e furiosamente para encontrar o
caminho daqueles que entrariam em um confronto. Depois de todos eles –para quem
permanecesse- haveria uma última filha de Ares e de Afrodite que encontraria
sua trilha e estação, mas dela e do seu mito – bem como de sua numinosa
importância falarei adiante.
Outra vigorosa deidade mediterrâneas sempre ligada aos
barracos e o confrontos continua sendo a Deusa Éris: Discórdia infatigável,
Companheira e irmã do homícida Ares, quem a principio se apresenta timidamente,
mas que logo anda pela terra enquanto a fronte toca o céu – como diziam os
antigos. Diferente dos humanos descompensados ela é uma Deusa e a encarnação de
muitos valores e espíritos afins – e sagrada como todas as deidades e daemons
mencionados neste pobre artigo. Dentre seus feitos mais conhecidos temos o estopim
da guerra de Tróia e causar problemas em festas de núpcias justamente por não
ser convidada – na real, este sempre foi o fato que a levou causar a disputa do
pomo dourado ou ainda o incidente com os centauros em outro casamento. Não
convidar ou não reconhecer o caos ou a discórdia como sagrados é uma desmesura
e mesmo uma presunção, pois também representam renovação e transformação. Aquilo
que tira da zona de conforto, mas tal situação é sempre diabolizada e varrida
para debaixo do tapete por comodidade, apatia e escapismo – traduzindo em
outras palavras é jogado sob o outro e não em sí e as coisa piora na proporção
que pessoas insistem em crerem que não vem-a-serem aquilo que pensam e
demonstram – também crerem ser mais especiais e “escolhidos” e “escolhidas” do
que outros para decidirem quem fica e sai do território e quem e como propagará
tal território – alguns procedimentos são estruturantes e meritórios outros
baseiam-se apenas em ânsia de controle e satisfação pessoal.
A Deusa Éris segundo Hesíodo era filha de Nyx (A Noite), irmã das Moiras(Fardo
ou Destino), das Horas, das Keres (morte em batalha), de Oizus(Miséria),
Oniros(legiões de sonhos), Momo (Escárnio), Hipnos (deus do sono), Tânatos (da
morte), do Éter(Luz Celestial) e de Hemera (O Dia). Além de integra esta ampla
família, Éris sozinha foi mãe das seguintes deidades: O inflexível Moros(As
sortes), Kera(que destina os tipos de morte), as Hespérides(guardadoras dos
pomos da imortalidade no Oeste),Limos(A Fome), Ftono(A Fome), Belona (da
Carnificina), Lissa (Loucura), Caronte (o famoso Bargueiro do Rio Infernal),,
Geras(Velhíce), A divina Nêmesis (Deusa da Retribuição), Apate(engano ou
fraude), Filotes(Amizade).Podemos ainda citar outros filhos como Ponos (a
Pena), Lete(Esquecimento), Limos (A fome) e o lacrimoso Algos (Dor), as
Hisminas (Disputas), as Macas(Batalhas), Fonos (Matanças), Androctasias
(Massacres), Neikea (Ódios), Pseudologos (Mentiras), Anfilogias (Ambiguídades),
Disnomia (Desordem) e Ate (Ruína e Insensatez).Com tudo isso e mais um pouco, o
mitógrafo Robert Graves ainda a apontava por vezes como irmã-gêmea de Ares
(Filho de Hera). Éris desvela em sua amplitude as altercações, movimentos de
rumores, ciúmes, invejas, acídias, avarezas, gulas e iras da condição humana;
toma lados simultaneamente e deleite na confusão do movimento perpétuo e sobre
isso os antigos advertiam: “Pois recorda-te que és humano e a discórdia entre
tí e os outros, e mesmo consigo é da tua natureza e certeza constante em teu
caminho.” A filosofia e mesmo a sabedoria perene podem suavizar tal
compreensão tornando-a mais palatável – afinal como já disse sair da zona de
conforto, de apatia e conformismo é um processo doloroso e diabólico; e aquilo
que é o novo sempre aparece como grotesco e imprevísivel. A chamada Erística
dos filósofos foi criada inspirada em Éris, é a arte da disputa argumentativa
no debate filosófico e é pautada em habilidade de raciocínio e acuídade verbal.
Entre os Romanos a Deusa Éris era conhecida como Discórdia (acompanhava o cortejo
de Marte, como era chamado Ares por lá) e seu contraponto era uma outra deusa
também integrante deste mesmo cortejo da qual falaremos ao final da parte 2 e
na parte 3 deste artigo.
Quando o grande Karl Kereny (na Obra Dioniso) fala que as coisas de
Ares, Hades e Dioniso são as mesmas...
Ares, Hades e Dioniso são as mesmas...
CONTINUA...
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